quarta-feira, 5 de maio de 2010

A MGF e a Medicina Baseada em Indicadores... Uma reflexão



A Medicina Geral e Familiar (MGF) tem como características (entre outras competências; Wonca 2004), a prestação de cuidados centrados na pessoa, competência técnica de resolução de problemas, acessibilidade com satisfação dos cidadãos e profissionais.

Penso que poderão existir diversas formas de Organização de GRUPO (USF Modelo A/B/C ;UCSP;outras) de prestação de MGF com qualidade e geradoras de bons resultados.

O ideal seria que se avaliasse os resultados (de saúde, custo efectividade, etc) de forma a perceber se os Modelos Organizativos estão a gerar bons resultados, sem desvirtuar os princípios da MGF.

Os indicadores existentes (que têm servido de base de contratualização com as USF) são indicadores intermédios (do processo / surrogate endpoint) que poderão, ou não, traduzir outcomes/resultados favoráveis.

Existe necessidade de desenvolver investigação instrumental (aliás identificada na Agenda de Investigação Europeia MGF/ EGPRN) de forma a conseguir construir indicadores que de facto meçam o que se pretenda medir (validade), baseada na melhor evidência disponível.

Os indicadores espelham apenas uma parte da actividade duma USF, poderão ou não traduzir resultados favoráveis e poderão não estar baseados nas melhores evidências. Este facto deverá ser tido em conta na contratualização; é necessária uma certa postura de humildade e de abertura para afinar e corrigir estes processos de monitorização.

Por outro lado, as USF não deverão ficar com a sua actividade focada em indicadores, pois existe muito mais vida para além de indicadores. Este é um dos perigos do P4P (pay for performance): centrar a actividade em indicadores e dar menos importância a outros aspectos (outras necessidades de saúde).

Devemos evitar a Medicina Baseada em Indicadores, ie, MGF centrada em indicadores, alguns de validade questionável e não esquecer o essencial: a reforma dos CSP sem desvirtuar a prática da MGF com a qualidade que todos queremos.

Miguel Melo

USF Fanzeres Modelo B - ACES Gondomar

PS: Esta reflexão vem a propósito do Encontro de Vilamoura, nomeadamente a comunicação da MJ Ribas (projectar o futuro) e de outras mesas. Pretende ser um contributo positivo de quem tem contribuído para a melhoria da MGF.

Siglas:

MGF - Medicina Geral e Familiar

USF - Unidade de Saúde Familiar

UCSP - Unidade de Cuidados Personalizados

EGPRN - European General Practice Research Network


Nota: este texto, publicado aqui com a autorização do Dr. Miguel Melo, foi previamente publicado no forum MGFamiliar, no dia 24/03/2010.

1 comentário:

  1. Antes de mais, quero agradecer ao Miguel Melo a autorização que me deu para publicar este seu texto.
    O Miguel toca com o dedo numa ferida actual da MGF.
    Vejo mta gente em risco de burnout...
    Um dos problemas: os indicadores, as metas e os objectivos não param de subir. Os Srs. "gestores" não compreendem isso e aplicam as regras de gestão das empresas à Medicina Geral e Familiar. Não compreendem que por mais que queiramos ser bons médicos, há sempre uma margem de incerteza, pq nem tudo depende de nós e há mto que depende dos pacientes. Não se pode continuar a subir indefinidamente as metas dos indicadores...

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