terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Este blog mudou-se para o novo portal MGFamiliar



O Editorialblog continua a existir, mas agora tem um novo endereço. Siga poara o link:




Continue a acompanhar e a ler os nossos posts :)


Obrigado :)

domingo, 28 de outubro de 2012

Sejam bem-vindos ao MGF.net Talks 2012 :))




Aproximamo-nos rapidamente do MGF.net Talks 2012, é já no próximo dia 9 e 10 de Novembro. Mais uma vez esperamos que venha a ser um evento de aprendizagem e de muita partilha. No primeiro dia, teremos os workshops: realço os workshop sobre o MIM@UF, sobre o SAM e sobre a ICPC-2.  No segundo dia, será um dia muito especial! Um dia de enriquecimento mútuo, o dia das talks e o dia das comunicações livres... Espero que seja um dia de inspiração e que nos encha alma!
Como sempre, a organização deste evento implica muitas variáveis, algumas incertezas e, às vezes, algumas surpresas, nem sempre positivas. Assim, depois já ter confirmado o apoio para o webstreaming do evento, eis que o mesmo foi retirado sendo,  neste momento, ainda uma incerteza. Este ano também não conseguimos obter o apoio para ter no evento os computadores portáteis para os workshops. Por exemplo, o workshop do MIM@UF não terá disponível computadores para os utilizadores... Tal, pode até nem ser negativo, pois no ano passado, o bloqueio de alguns computadores acabou por limitar de certa forma a rentabilidade do workshop.
Os colegas que participaram nos anos anteriores deram-nos um feedback muito positivo. Consideraram os workshops como muito úteis e gostaram deste modelo de evento científico, diferente do modelo tradicional.
Apesar dos contratempos, contamos com a vossa participação activa e generosa que, estou certo, permitirá que estes dois dias sejam dias produtivos, de muita aprendizagem e enriquecimento mútuo. 

Sejam bem-vindos ao MGF.net Talks 2012 :))

PS.: continuem a enviar as vossas inscrições! A vossa presença e participação é o melhor apoio que posso obter e, acreditem, vital para a continuidade deste evento científico! 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Portugal sem Fumo - 2012




No próximo dia 25 de Outubro, pelas 21H00 será transmitida a partir do Salão Nobre da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), a 5ª Sessão do Think Tank Portugal Sem Fumo 2012. Este será mais um webinar no portal MGFamiliar ( www.mgfamiliar.net ).
O tabagismo continua a ser a principal causa de morte e doença com consequências devastadoras na saúde dos portugueses, pondo em causa a eficácia dos setores da sociedade comprometidos com o bem estar das populações.
Assim, a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) em colaboração com o portal MGFamiliar e com o apoio da Pfizer, dá a conhecer, publicamente, neste dia, o estudo “Tabagismo 2012” que foi elaborado e debatido por peritos da especialidade.
Nesta sessão, que vai ser interativa e que poderá ter uma ampla participação online de Norte a Sul do país, Ana Escoval (ENSP) apresentará publicamente as conclusões e recomendações dos peritos, que estiveram reunidos no passado dia 11 de Outubro, para debaterem o estado de arte do Tabagismo em Portugal e da respetiva legislação.
A apresentação dos resultados do estudo inédito realizado em Portugal em 2012 sobre o tema, estão a cargo da médica e investigadora Sofia Ravara (Faculdade de Ciências da Saúde – UBI)
Seguir-se-á um debate aberto a todos os participantes em sala e online, por webchat, com a participação de comentadores políticos e da saúde, Ricardo Batista Leite (deputado PSD) e Manuel Pizarro (deputado PS), moderado por Marina Caldas e Carlos Martins.

domingo, 9 de setembro de 2012

"Dr. Share": de médicos para médicos!




Caros colegas,
partilho convosco mais um passo evolutivo do MGFamiliar. Há muito que vinha sentindo a necessidade de criar  um espaço de acesso restrito a médicos no MGFamiliar. Por motivos óbvios, há certos temas, clínicos ou não, cujo debate deverá decorrer entre médicos. É assim que, no âmbito da remodelação do MGFamiliar, surge um espaço novo, o "Dr. Share".
Temos vindo a desenvolver esta área e temos introduzido algumas melhorias no seu modo de funcionamento. Este espaço, pode ser uma mais-valia importante para todos nós. Deseja-se que seja um espaço dinâmico de partilha de vivências, de dúvidas, de ferramentas, de soluções: um espaço de médicos para médicos!
Um espaço para médicos de todas as especialidades! Deseja-se construir pontes entre as várias especialidades médicas!
No futuro, algumas das ferramentas do MGFamiliar, por exemplo algumas das calculadoras, irão estar alojadas nesta área de acesso restrito a médicos.
No futuro, espero vir a organizar aqui sessões de discussão de casos clínicos via chat, webinars, journal clubs, momentos de discussão sobre os mais variados temas relacionados com a Medicina. E, certamente, também poderemos ir "Para além da Medicina"...
Neste espaço, poderemos encontrar os colegas que já não vemos desde os tempos da Faculdade e facilmente saberemos qual a especialidade que escolheram e por onde andam a trabalhar...
Para que resulte, conto com a colaboração de todos os colegas para não se inibirem de partilhar conteúdos no Dr. Share e criem aqui um espaço dinâmico e interactivo à imagem da nossa profissão. Também agradeço que divulguem este espaço entre os colegas! 

Para se inscreverem neste espaço basta ir aqui:
http://www.drshare.org/signup

É importante que coloquem o vosso nome completo!!! 

Obrigado!

Nota: com o Firefox, a inscrição por "encravar" no passo 2. Sugiro que façam a inscrição noutro browser e depois já podem usar o Firefox :)

terça-feira, 4 de setembro de 2012

"O doente do quarto 302" faz-nos reflectir



Para reflexão de todos nós, de um artigo de opinião publicado no Jornal Público de 29/07/2012 por Laura Ferreira Santos:

«Há tempos, um amigo mandou-me o seguinte diálogo:
“— Bom dia, é da recepção? Eu gostaria de falar com alguém que me desse informações sobre um doente internado.
— Qual é o nome do doente?
— Chama-se Celso e está no quarto 302.
— Um momento, vou transferir a chamada para o sector de enfermagem.
— Bom dia, sou a enfermeira Lurdes. O que deseja?
— Gostaria de saber a condição clínica do doente Celso do quarto 302, por favor.
— Um minuto, vou ligar ao médico de serviço.
— Daqui é o Dr. Losa. Em que posso ajudar?
— Bom dia, dr. Precisava que alguém me informasse sobre a saúde do Celso,
internado há três semanas no quarto 302.
— Só um momento, que eu vou consultar a ficha do doente. Hum! Aqui está: alimentou-se bem hoje, a pressão arterial e o pulso estão estáveis, responde bem à medicação prescrita e vai ser retirado da monitorização cardíaca amanhã. Continuando bem, o médico responsável assinará a alta em três dias.
— Ah, graças a Deus! São notícias maravilhosas! Que alegria!
— Pelo seu entusiasmo, deve ser alguém muito próximo, certamente da família!?
— Não, sou o próprio Celso, a telefonar aqui do 302! É que toda a gente entra e sai deste quarto e ninguém me diz nada. Eu só queria saber como estou...”
...
Não se consegue ter bons profissionais, seja em que área for, se os tratarmos a pontapé. Se ainda muitos se queixam, penso que com razão, de as faculdades de Medicina tenderem a dar mais importância ao modelo estritamente biomédico ou de fisiologia patológica, em vez de incentivarem a abordagem biopsicossocial, não é decerto com a degradação e burocratização das carreiras que estes males se alterarão.»

O artigo na íntegra: aqui.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Histórias de uma e-grávida


As redes sociais, a web 2.0 está a ter um impacto inegável na forma como os nossos pacientes lidam com as questões relacionadas com a sua saúde. O texto que se segue é um bom exemplo disso. As nossas grávidas encontram-se em redes sociais agrupadas pelo mês da data provável de parto, vão partilhando experiências, sentimentos, dúvidas e vivências... Para mim, esta é uma forma de capacitação (health enablement /empowerment) notável. Os cépticos dirão que existem riscos,  a mim, parece-me que os potenciais benefícios superam claramente os riscos!
Obrigado à Filipa Duarte Gomes por ter autorizado a publicação deste texto:

“Venho partilhar com todas vocês uma lembrança...
Parece que foi ontem que encontrei um Grupo que se chamava Mamãs de Setembro de 2011 e que apressadamente me juntei ao grupo. Inicialmente não havia grande movimentação mas rapidamente foi ganhando movimento e futuras mamãs a juntarem-se ao cantinho.
Talvez aí com 6 ou 7 semanas as questões começaram a surgir, dúvidas, medos, receios... algo estranho sentíamos e, quase de imediato íamos partilhar tudo o que estávamos a viver (intensamente) umas com as outras... apesar de não nos conhecermos havia apoio, compreensão, acompanhamento mas acima de tudo uma amizade, que por muito que virtual que ela fosse, era verdadeira e pura, estávamos todas ali pelo mesmo motivo, pelos seres que cresciam dentro de nós aos quais chamaríamos de nossos filhos, relembro com carinho as mamãs que infelizmente não concretizaram a gravidez até ao fim, relembro-as e deixo-lhes um enorme beijinho a todas elas. Foram perto de nove meses de grandes emoções partilhadas por todas nós e vividas nas primeiras pessoas, partilhamos experiências, sentimentos, problemas, felicidades e tristezas, e com o passar do tempo aproximava-se o grande dia de cada uma... a pouco e pouco começaram a nascer as estrelinhas e a felicidade era tanta que sentia arrepios das palavras que lia dos que já eram papás. O meu dia aproximava-se tal como o vosso... cada vez mais o medo se apoderava de mim e dia após dia aumentava mais e mais, na véspera escrevi no nosso grupo que, "no dia seguinte era o nosso grande dia"... (estava apavorada) as lágrimas escorriam-me pela cara enquanto escrevia mas estava muito feliz mas apavorada, senti-a que me iam "roubar" o que foi só meu durante 9 meses para num dia ser de todos (do pai, avós, tios, primos etc) e não é egoísmo acreditem que não, apenas não queria deixar de sentir ele dentro de mim e de perder a minha barriga. É claro que assim que o vi pela primeira vez e a carinha dele tudo passou e a alegria, felicidade e o amor invadiu o meu coração. Nos primeiros dias de vida havia outros medos, outras dúvidas, sentimentos e experiências que mais uma vez partilhamos umas com as outras até hoje... Isto para dizer que de uma maneira ou de outra todas têm um papel fundamental no nosso dia a dia pois desde o nascimento, que fez ontem 9 meses, que partilho os momentos mais deliciosos e importantes da minha vida e juntando os meses da gravidez já perfaz 17 meses de intensas alegrias e os momentos mais felizes da minha vida que partilhei com todas vós. Um Beijinho muito grande a todas vocês um xi ♥ muito apertado e um Muito Obrigada por estarem sempre cá também não só a responder mas tal como eu a partilhar as vossas vidas.”

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Notícias da WONCA Europe 2012



Entre 4 e 7 de Julho, decorreu mais uma WONCA Europe Conference.
Aspectos interessantes e positivos que me ocorre comentar:
- Workshop relacionado com o tema do sobrediagnóstico e sobre como comunicarmos os riscos associados aos rastreios aos pacientes. Contámos com a colaboração do John Brodersen, do Cochrane Nordic Group e um dos autores do folheto de informação sobre o rastreio do cancro da mama. A partilha de ideias nos grupos de trabalho foi bem interessante. Médicos de diferentes países, de diferentes contextos culturais e sociais acabam por lidar com problemas semelhantes: os pacientes não conhecem os riscos associados a certos rastreios e não é fácil comunicar-lhes certo tipo de informação. Foram analisados e comparados dois folhetos informativos sobre o rastreio do cancro da mama:
a) o do NHS, claramente tendencioso a favor do rastreio;
b) o da Cochrane, com uma linguagem mais técnica e difícil de compreender por alguns pacientes.
A solução talvez passe por descobrir uma linguagem mais simples, eventualmente simbólica para os pacientes compreenderem os eventuais riscos e benefícios quando se submetem a certos tipos de rastreios oncológicos.
Foi uma honra contar com a presença da colega Iona Heath neste workshop :))
- A participação portuguesa foi numerosa e com muita qualidade.
- O stand da APMGF fez uma excelente divulgação da WONCA Europe Conference 2014 que se realizará em Lisboa e foi muito procurado pelos participantes.
- O tema central do congresso “The art and science of General Practice” proporcionou uma série de palestras e workshops bem interessantes em que se debatia a relação entre a ciência e a arte e a forma como a arte pode contribuir para a melhoria da qualidade da Medicina Geral e Familiar – gostei disto!
Estes são apenas alguns dos comentários que me ocorreram, mas podem haver muitos mais… Deixo o convite aos colegas que estiveram presentes para os deixarem nos comentários….

sexta-feira, 8 de junho de 2012

É bom partilhar e debater ideias :)




No passado dia 29/05/2012 decorreu o primeiro webinar do Ciclo de Debates sobre as Normas de Orientação Clínica. Foi uma experiência muito positiva e enriquecedora.
Antes de mais, agradecemos a todos os colegas que participaram no aceso debate e na partilha de ideias. Sem vós e sem a vossa participação ativa, estas iniciativas não fariam sentido.
Durante cerca de 1 hora e 30 minutos passaram pelo debate 450 pessoas, chegámos a ter 150 pessoas a assistir ao debate em simultâneo e obtivemos 253 comentários no chat. Só por estes números já dá para perceber o alcance que estas plataformas de comunicação podem ter.
No MGFamiliar.net sentimos que continuamos a inovar e a fazer um pouco de história na Medicina em Portugal, mas o que mais nos alegra e mais nos motiva é fazer desta plataforma um serviço útil aos médicos e contribuir para a melhoria contínua da medicina em Portugal.
No próximo dia 19 de Junho, vai decorrer o segundo webinar deste Ciclo de Debates e esperamos voltar a contar com o vosso apoio e participação ativa.
Finalmente, um grande obrigado pelo apoio que a Pfizer oferece a esta e outras iniciativas do MGFamiliar.net, bem como a todas as instituições que vão acolher os vários debates: APMGF, Secção Regional Norte da Ordem dos Médicos, ACES Porto Ocidental, APMGF Coimbra (ainda a aguardar confirmação).

Nota: quem desejar rever o primeiro webinar pode fazê-lo aqui: http://www.mgfamiliar.net/nocs/galeria.html

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Novas regras de prescrição


Texto retirado da Circular Informativa conjunta do INFARMED e ACSS:



INFORMAÇÃO DIRIGIDA AOS PRESCRITORES


- A prescrição realiza-se por DCI, forma farmacêutica, dosagem e apresentação. Deve ainda incluir a posologia.

- Até à publicação das normas e adaptação dos sistemas informáticos, todas as prescrições que incluam o denominação comercial do medicamento, sem inclusão da justificação técnica, são consideradas como efetuadas por DCI, ou seja, a farmácia é obrigada a dispensar o medicamento mais barato ao utente, exceto se não for essa a sua vontade.


- A prescrição que inclua denominação comercial apenas é possível nas seguintes situações:


- Medicamentos que não disponham de genéricos comparticipados ou em que exista apenas medicamento   original de marca e licenças;


- Nas exceções admissíveis incluindo a respetiva justificação técnica do médico junto ao medicamento prescrito nas seguintes situações:


a) Margem ou índice terapêutico estreito - o prescritor deve colocar a menção «Exceção a) art. 6.º» no espaço de escrita livre da receita;


b) Reação adversa prévia - o prescritor deve colocar a menção «Exceção b) art. 6.º - Reação adversa prévia», no espaço de escrita livre da receita. Esta informação tem que ser registada no processo clínico do doente;

c) Continuidade de tratamento superior a 28 dias - o prescritor deve colocar a menção «Exceção c) art. 6.º - Continuidade de tratamento superior a 28 dias» no espaço de escrita livre da receita. Esta informação tem que ser registada no processo clínico do doente.


- A prescrição manual apenas é permitida em situações excecionais e deve ser assinalada, sob o logótipo do Ministério da Saúde, inscrevendo a menção «Exceção» seguida da alínea do artigo 8.º indicativa do motivo:
a) Falência do sistema informático;
b) Inadaptação fundamentada do prescritor;
c) Prescrição ao domicílio;
d) Máximo de 40 receitas médicas por mês.
Salienta-se que as prescrições efetuadas em lares de idosos não são consideradas como prescrições ao domicílio.


- No Anexo à presente Circular, encontra-se exemplificado o preenchimento das exceções nas receitas médicas eletrónicas e manuais.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

TEDxMaastricht: o balanço




Trago-vos aqui o balanço do Simulcast do TEDxMaastricht que decorreu no passado dia 2 de Abril na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
O evento abriu com uma Talk com recursos de "alta tecnologia" na qual participaram, em simultâneo, colegas a partir de Maastricht, da Austrália e do Canadá. Contudo, mais do que a tecnologia, a mensagem foi notável: os colegas defenderam o fim das biopsias efetuadas às cegas na abordadem diagnóstica do cancro da próstata.  Dado os danos e as limitações associadas à prática das biópsias cegas da próstata que atualmente é um procedimento padrão, os colegas propõem e demonstraram o uso da ressonância magnética como forma de evitar esses danos.
Outros temas abordados: capacitação dos pacientes, defendeu-se a prática de uma medicina cada vez mais humana ("Compassionate Care"), mais centrada na pessoa. Nesse sentido, cada vez mais os pacientes terão que ter acesso fácil aos seus dados e exemplo disso foi o de um Hospital em Nijmegen, Holanda, onde os pacientes podem aceder aos seus processos clínicos a partir de sua casa através de um computador ligado à Internet. Também foi defendida a inclusão de pacientes nos Congressos Médicos - até já foi desenvolvido um logo "Patients included" para identificar Congressos Médicos que respeitem esta boa prática.
Um outro tema abordado foi a importância do uso de jogos eletrónicos aplicados à saúde : "the gamification of Health".

Uma nota final: o evento teve muita qualidade e foi acompanhado em dezenas de simulcasts por todo o mundo... Na FMUP estivemos cerca de 60 de pessoas, mas podíamos ser muitos mais :)) Recordo o tema Principal do evento "the future of Health"... Este evento permitiu agitar consciências, despertar para novas realidades que nos vão bater à porta... Eu gostava de ver os nossos jovens alunos de Medicina mais atentos e mais presentes em eventos deste tipo.

sexta-feira, 23 de março de 2012

António Damásio: entender a consciência

"We all woke up this morning and we had with it the amazing return of our conscious mind. We recovered minds with a complete sense of self and a complete sense of our own existence — yet we hardly ever pause to consider this wonder.” (Antonio Damasio)




quinta-feira, 1 de março de 2012

Erro médico - falemos sobre isso...

Todos os médicos cometem erros. Contudo, a negação é a cultura reinante. E se fossemos capazes de falar sobre os nossos erros? Que horizontes de conforto e de melhoria da qualidade de cuidados se abririam se fôssemos capazes de falar sobre os erros que cometemos?


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A e-cooperação na e-Saúde

Lucien Engelen é o organizador do TEDxMaastricht, um evento dedicado a debater as tendências do futuro da medicina. Pode ver aqui o vídeo da apresentação por ele efectuada no ano passado. Esteja atento à parte final. 
Se souber como efectuar um levantamento dos desfibriladores automáticos externos existentes em Portugal, por favor, diga-me!






Já agora, uma novidade: o TEDxMaastricht deste ano decorrerá no próximo dia 2 de Abril. Poderá assistir ao evento a partir do auditório do novo Centro de Investigação Médica da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Em breve, darei mais informações...

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Insegurança na prescrição eletrónica


Num artigo publicado no Correio da Manhã de 17 de Janeiro, é dado eco do alerta do Sr. Bastonário da Ordem dos Médicos efetuado na Comissão Parlamentar de Saúde para a frágil segurança do sistema de prescrição médica eletrónica atualmente implementado em Portugal.

A meu ver, tem toda a razão o Sr. Bastonário ao chamar a atenção dos Srs. Deputados para esta alarmante situação.

Da forma que o sistema está implementado, o potencial de fraude é enorme e o potencial de uso indevido de dados dos pacientes é também considerável.

Eis alguns exemplos:

1. Dado que não está instalado um sistema seguro de assinatura digital que permita o acesso à prescrição, basta um funcionário de uma das empresas de software fornecer as minhas credenciais de acesso a alguém mal intencionado e esse alguém poderá prescrever receitas em meu nome muito facilmente. Recordo que, presentemente, a assinatura manual é uma mera formalidade burocrática pois nas farmácias não existe forma de conferir a veracidade da assinatura manual.

2. Uma empresa de seguros de saúde que faça um acordo secreto com alguém de uma empresa detentora de software de prescrição poderá facilmente aceder a informação clínica relevante sobre os seus segurados...

3. Uma empresa interessada em conhecer o perfil de prescrição dos profissionais de saúde poderá também abordar as empresas detentoras do software de prescrição e aceder indevidamente às prescrições efetuadas.

Reforço a mensagem do Sr. Bastonário, são necessárias medidas urgentes que corrijam estas imperfeições do sistema de prescrição eletrónica atualmente em vigor.

Fica o alerta bem intencionado para os SPMS/ACSS!

 

Artigo original do Correio da Manhã: Segurança da prescrição electrónica "é aterradora"


PS.: para que não fiquem dúvidas, eu sou inteiramente a favor da prescrição eletrónica! Mas são necessárias e urgentes as devidas correcções!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

SNS: casa onde não há pão...

Este post é sobre uma casa onde não há pão, a NOSSA casa. Apresento-vos três pontos de vista. Dois em vídeo e um num texto escrito. Não vão todos no mesmo sentido.
Penso que todos gostaríamos de ter uma saúde gratuita para toda a população. Todos reconhecemos a importância do SNS. Mas, na falta de pão, tenho observado muita gente a opinar, mas ninguém com uma solução.
Neste, como noutros problemas deste Portugal sem pão, o que eu gostaria mesmo era ver uma plataforma de entendimento que abrangesse os principais partidos da esquerda e da direita. A bem de todos, a bem da paz social.
Finalmente, recordo que ainda durante o governo PS, houve uma comissão que estudou a Sustentabilidade do Financiamento do SNS. O relatório final está disponível aqui. Nas conclusões, podemos ler:


«Após a apreciação das várias alternativas de financiamento do SNS, a Comissão recomenda ao Governo: 
1. Manutenção do sistema público de financiamento do SNS, como garantia do seguro básico público, universal e obrigatório, assente no pagamento de impostos. 
2. Adopção de medidas que assegurem maior eficiência na prestação de cuidados de saúde, traduzidas por menor despesa pública em saúde e menor taxa de crescimento. 
3. Utilização abrangente de mecanismos de avaliação clínica e económica para estabelecimento  de prioridades e definição das intervenções asseguradas pelo seguro público.  
4. Revisão do regime vigente de isenções das taxas moderadoras, com uma sua redefinição baseada em dois critérios: capacidade de pagamento e necessidade continuada de cuidados de saúde. 
5. Actualização do valor das taxas moderadoras, como medida de disciplina da utilização  do SNS e de valorização dos serviços prestados.  
6. Redução dos benefícios fiscais associados às despesas em saúde, aproximando a realidade portuguesa  da observada na generalidade dos países da OCDE.  
7. Retirar do espaço orçamental os subsistemas públicos, sendo evoluções possíveis a sua eliminação ou a sua auto-sustentação financeira. »

Fica para reflexão...


Pontos de vista 1 e 2





Ponto de vista 3:

Saúde: Utentes devem comparticipar SNS




domingo, 11 de dezembro de 2011

Acesso dos pacientes à sua informação clínica

Este vídeo dá que pensar... Uma das  principais vantagens da evolução tecnológica dos sistemas de informação passa pelo acesso com qualidade e quantidade à informação, um autêntico processo de "democratização do acesso" à informação. Na área da saúde e da informação clínica, cada vez surgem mais movimentos de pacientes que defendem o acesso fácil à sua informação clínica. O futuro é já ao virar da esquina...

Electronic Health Records (EHRs) Can Save Lives: Regina Holiday's Story ...



sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

MGF.net Talks 2011: foi mesmo um evento especial :)



Foi mesmo um evento especial :)
No conjunto dos dois dias, passaram 104  colegas pelo MGF.net Talks 2011. Foi um número superior ao da edição do ano passado.
No caminho para este evento passámos por dois grandes sustos. O primeiro ocorreu a dois meses do evento, quando verificámos que tínhamos apenas 11 médicos inscritos. Valeram-me a serenidade e a experiência da Ana Montes da Admédic e ainda bem...
O segundo grande susto foi quando me telefonaram na sexta-feira anterior ao evento comunicando que só dispúnhamos de 15 computadores. 15 computadores para um workshop com mais de 50 pessoas inscritas e depois de o evento ter sido anunciado como dispondo de computadores. Nem vos sei descrever o que senti. Felizmente, descobri a Futurdata, uma empresa que aluga computadores e foi a nossa salvação!
Depois destes sobressaltos todos, até me parece que o MGF.net Talks correu bem.  Os workshops foram intensos. Mesmo não dispondo das condições ideais, parece-me que os colegas conseguiram adquirir e partilhar novas aptidões.
O segundo dia, o dia das Talks propriamente dito, bom, esse então foi mesmo especial. Foi tão bom ver o "ar de agradavelmente surpreendidos" dos participantes pelo refrescante e inovador modelo do evento. Foi bom ver toda aquela energia, toda a participação desinibida... Foi bom ver colegas a participar no evento mesmo estando à distância. O webstreaming do evento, inovador no panorama dos congressos médicos em Portugal, no segundo dia resultou muito bem.
Em relação ao futuro, vamos ver...
Obrigado a todos os que apoiaram este evento, obrigado a todos os que nele participaram. 
Um obrigado especial à Secção Regional Norte da Ordem dos Médicos que investiu desde o princípio na organização deste evento.
Adeus, MGF.net Talks 2011 e, eventualmente, até à próxima :)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

"A minha mente tem a história que tem"

Li esta resposta e dei comigo a pensar naquilo que ela exprime. Uma verdade tão simples, mas parece-me implicar um tão profundo conhecimento de si próprio, parece-me ser o reconhecimento de um longo caminho efectuado.
Eis o excerto da entrevista:
"Acha-se livre da esquizofrenia?
Estou livre de sintomas diagnosticáveis. A minha mente tem a história que tem, mas não estou louco. Não pertenço a um asilo de lunáticos."

Pode ler a entrevista na íntegra:



segunda-feira, 10 de outubro de 2011

MGF.net Talks 2011: do esforço da sua organização


Nos últimos dias tenho-me desdobrado em reuniões, contactos, mails com múltiplos intervenientes neste evento. Apesar do esforço, nem sempre tenho conseguido levar a bom termo aquilo que desejo para servir melhor os colegas neste evento.

Posso dar-vos como exemplo o desejo de conseguir ter computadores para treino nos workshops. A Megatronica, em boa hora, decidiu apoiar este evento através do fornecimento de computadores portáteis para os workshops. Assim, posso garantir-vos que, pelo menos no workshop de Informática Básica e no workshop das "TICs na prática clínica" teremos 1 computador por formando ou, pelo menos, por dois formandos. Contudo, tem sido bem mais árdua a tarefa de conseguir ter computadores com o SAM ou com o MIM@UF para os respetivos workshops... Ainda na sexta-feira passada tive uma reunião na ACSS: foi-me prometido um esforço nesse sentido, mas a estrutura pesada e antiquada do SAM talvez não possibilite aquilo que todos desejávamos: ter o SAM nos portáteis para os formandos poderem testar e treinar. Talvez seja mais fácil uma solução para o MIM@UF.

Por vezes dou comigo a pensar... todo este esforço poderá ser inglório se os colegas não aderirem e não participarem neste evento...  Afinal, porque é que organizo este evento?

Porque acredito que um evento deste tipo nos faz falta.

Porque acredito que é possível organizar um evento científico com qualidade e com um modelo inovador que facilite o diálogo e a partilha de conhecimentos.

Porque me parece importante este espaço de reflexão sobre tecnologias que nos entram pela porta adentro a uma velocidade tal, que se torna difícil a real perceção do seu impacto em nós e na relação que construímos com os nossos pacientes.

Porque por detrás do MFamiliar.net estão os rostos humanos de todos nós, autores e leitores, e como humanos que somos, vai-nos fazer bem o reencontro.

Um abraço, Carlos Martins

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

International Human Development Indicators

Nos últimos tempos tem sido frequente o aparecimento de plataformas na web que facilitam muito o acesso a dados estatísticos relevantes. Também tem crescido de forma significativa o movimento a favor do "open data access". 
Já aqui falei do excelente Pordata . E agora temos uma novidade da ONU: International Human Development Indicators. Uma plataforma que permite construir gráficos em múltiplos formatos dos indicadores fundamentais que tentam medir o desenvolvimento humano e com dados de quase todos os países do mundo. Excelente!


Eis o exemplo de um gráfico retirado desta plataforma:



domingo, 11 de setembro de 2011

A transcrição de exames


Para reflexão de todos, médicos e pacientes, apresento, devidamente autorizado, um texto de António Alvim sobre a transcrição de exames complementares de diagnóstico. Um tema "quente" na actual agenda mediática...


A transcrição de exames
1. Não faz qualquer sentido caber aos Médicos de Família a transcrição de exames para que estes sejam comparticipados pelo SNS. Os Médicos de Família são médicos especialistas como os outros com competências e deveres próprios. No âmbito da sua atividade no SNS, têm a faculdade de prescreverem medicamentos e requisitarem exames de forma comparticipada pelo
SNS.

2. Aquela faculdade é para uso próprio no seguimento dos seus doentes. Não cabe no seu papel a transcrição de exames. Esta não é uma competência técnica. Apenas um abuso de terceiros de uma faculdade que dispõem.

3. Os pedidos de transcrição é o último resquício que ainda resta dos tempos da "caixa" sobre a qual se ergueram infelizmente os CSPs.

4. Todos aqueles que sempre usaram o MF para transcrever nunca se lembraram de reclamar, de forma efetiva, o direito de eles próprios poderem prescrever diretamente de forma comparticipada.

5. E se os privados não dispõem daquela faculdade é porque o legislador não quis. É com o Legislador que se têm de entender os médicos que fazem medicina privada (e a Ordem) e os seus doentes.

6. Se a faculdade da requisição comparticipada é uma necessidade fundamental ao livre exercício da Medicina então em vez de considerar a transcrição um dever dos Médicos de Família, como agora foi feito, aquilo que a Ordem e o seu Bastonário, baseados nos seus deveres e competências, devia fazer era encetar uma luta para que todos os médicos tivessem a faculdade de prescrever de forma comparticipada.

7. A Transcrição não é uma questão de dimensão médica. Não se trata de recusar um cuidado médico. É apenas uma questão financeira. O que está em causa não é o acesso a um exame mas sim sobre o seu pagamento. E cabe ao legislador è à tutela o poder, democraticamente concedido, de definir as regras do jogo tendo em conta o supremo interesse dos cidadãos, em todas as suas vertentes. E aquilo que o decisor político decidiu foi exatamente dar prioridade às questões financeiras e poupar assim algum dinheiro.

8.Aquilo a que se assiste no despacho é a uma proibição dos Hospitais prescreverem exames para fora (até com o aplauso do Bastonário) e em simultâneo a proibição expressa dos Médicos de Família transcreverem pedidos dos Médicos dos Hospitais e da Medicina Privada. Não tendo como vimos acima dimensão médica este despacho é "uma ordem" que os médicos enquanto
enquadrados pelas leis da Função Pública têm de cumprir.

9. Posto tudo isto é preciso saber :
a) Cabe ao Médico de Família o seguimento continuado dos seus utentes visando a manutenção do seu estado de saúde e o diagnóstico e tratamento em caso de doença;
b) Cabe ao Medico de Família requisitar todos os exames que considere necessários;
c) Pode haver coincidência entre aquilo que ele assume como necessário e o que lhe pedem para transcrever.

10. Será preciso bom senso porque o cumprimento escrupuloso da lei levará a uma tensão tal que a implodirá, tornando-a ineficaz. O uso ( agora necessariamente de forma devidamente fundamentada e registada no processo clínico) da alínea c do ponto 9, como válvula de escape, é uma das condições necessárias para o seu sucesso.

11. Mas cabe à ordem questionar muito seriamente o Ministério o que se faz aos doentes para os quais os Hospitais não têm capacidade de resposta enquanto não estiver montado o esquema alternativo previsto no despacho de subcontratarem os exames ao sector privado. Aceitar e defender que os MF devem transcrever os pedidos dos Hospitais é o pior que a Ordem pode fazer. Por um lado torna ineficaz o despacho e por outro aumenta o papel transcritor do MF.

12. Tem sentido que os Médicos privados não tenham acesso à requisição de
MCDTs comparticipados? Sim e não.
a)  Em termos de direitos ao acesso à saúde e à liberdade de praticar medicina , claro que sim, A escolha de um privado é por enquanto um direito. E o exercício desse direito não deve coartar o direito à comparticipação nos exames para esclarecimento da situação clínica. Também o legislador não pode considerar que o Médico Privado prescreve de forma ineficiente e o Médico
Público de forma eficiente. Por outro lado, o recurso aos privados alivia a pressão da procura no SNS e os gastos públicos.
b) A questão porque "Não" tem a haver com duas razões:
- Uma de Ordem Económica. - Se os exames prescritos pela privada passassem a ser todos comparticipados pelo SNS, toda fatia dos MCDTs que é hoje suportada pelos Seguros ou pelo bolso dos privados passava para encargo do SNS., implodindo de vez as suas finanças.
- Outra de natureza de Equidade Social- Seria um estímulo para que as pessoas saudáveis e com dinheiro deixassem de ser clientes do SNS, deixando este para as pessoas sem recursos e logo sem capacidade reivindicativa. Seria passar de um SNS para todos, tendo como padrão a satisfação da classe média para um SNS assistencialista e consequentemente mais degradado .

13. A solução passa por encontrar um sistema que estimule e possibilite a competição entre o sector público e o privado. Mas isso já é outra conversa. Mas não menos importante.
António Alvim, Médico de Família

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Hipertensão Arterial - revolução no diagnóstico?

O NICE acaba de publicar uma revisão da sua orientação clínica para a abordagem da hipertensão arterial. Nesta nova edição, apresenta uma recomendação que vem mudar a forma como é efectuado o diagnóstico da hipertensão arterial. Uma mudança na prática clínica que se compreende, que é sustentada na evidência científica e que me parece bem-vinda.
Tradicionalmente, o diagnóstico da Hipertensão Arterial era efectuado pela medição repetida, em diferentes ocasiões, dos valores da pressão arterial. A partir de agora se o paciente apresentar valores superiores a 140/90 mmHg, recomenda-se a realização de um MAPA (Monitorização Ambulatória da Pressão Arterial).
Através desta medida, evita-se o diagnóstico desnecessário de pacientes que apresentam o efeito da bata branca (valores mais elevados da pressão arterial no consultório) e evitam-se os danos que daí poderiam advir: tratamentos desnecessários, consultas desnecessárias, efeitos secundários dos tratamentos, exames complementares de diagnóstico desnecessários.
Esta é uma recomendação sensata e que se adequa aos bons princípios da prevenção quaternária, em defesa da segurança do paciente. 


À atenção do Ministério da Saúde: justificar-se-á equipar as UCSPs/USFs com equipamentos de MAPA? O que será mais rentável: manter este exame através de serviços convencionados ou realizar este exame nas Unidades de Cuidados de Saúde Primários do SNS? 




A guideline original (em inglês) pode ser lida aqui: http://www.mgfamiliar.net/NICEHTA.pdf
Artigo relacionado: Cost-effectiveness of options for the diagnosis of high blood pressure in primary care: a modelling study





sexta-feira, 8 de julho de 2011

Inovação Social



Esta é a melhor homenagem que posso fazer a Diogo Vasconcelos. Independentemente das questões políticas ou partidárias, vale a pena ouvir esta apresentação. Diogo Vasconcelos apresenta-nos uma visão estratégica, notável mesmo, sobre o impacto que a inovação tecnológica pode ter na inovação social.
Em Medicina, falamos frequentemente de "decisão partilhada com os pacientes", cada vez ouviremos mais falar de "sociedade partilhada", "open data", "decisões políticas partilhadas com os cidadãos" ou "cidadania partilhada"... A inovação tecnológica será apenas o instrumento para uma inovação bem mais importante: a "inovação social". Será este o caminho para a reforma do Estado Social? Para a reforma do "Modelo Social Europeu"? Penso que sim.
Obrigado, Diogo Vasconcelos.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Exame periódico de saúde: controvérsia



Partilho neste post um texto escrito por um grupo de Médicos de Família a propósito de um artigo do jornal Público: Orientação sobre frequência de exames médicos gera protestos de especialistas


Concordo inteiramente com os colegas: mais do que critérios económicos, são critérios científicos que devem guiar as escolhas de exames complementares de diagnóstico nas chamadas "consultas de rotina" (tecnicamente: exame periódico de saúde). Na verdade, os exames médicos podem ter vantagens, mas também podem ter riscos e malefícios, sobretudo se aplicados mais frequentemente e em idades mais jovens do que o recomendado. Muitas vezes, o especialista em Medicina Geral e Familiar desempenha o papel de provedor do paciente, partilhando a informação sobre os benefícios e os riscos de determinados procedimentos para em conjunto se tomar a decisão. Na verdade, não é tanto uma "questão de poupar" (como se isso fosse mau), mas é mais uma questão de proteger a saúde do paciente evitando danos desnecessários que lhe podem ser causados por testes, exames, rastreios desnecessários... Mesmo que isso vá contra a corrente de uma certa opinião pública ou de outros especialistas...

O documento da USF Marginal referido no texto está disponível aqui.
O documento do ACES Lisboa Norte que deu origem ao artigo do Jornal Público está disponível aqui.


Eis o texto:
«O Agrupamento de Centros de Saúde de Lisboa Norte (ACES-LN) divulgou junto dos seus profissionais um conjunto de recomendações sobre avaliação periódica de pessoas saudáveis. Esse documento foi objecto de críticas por parte de responsáveis de três prestigiadas organizações médicas portuguesas nas áreas da oncologia, cardiologia e diabetologia. Dessas críticas deu notícia o "Público" no dia 20 de Maio último (texto em anexo). Esses especialistas transmitem ainda a sua opinião quanto à população abrangida e periodicidade dos gestos propostos nessas recomendações. De um modo geral os referidos especialistas propõem intervenções que atingem mais pessoas e são executadas com maior frequência. Um deles diz compreender "que é preciso poupar"; outro sugere que na base das recomendações existem critérios "economicistas" e que aquelas terão sido escritas "numa perspectiva dos médicos de saúde pública, que são os que não vêem os doentes".

Acontece que o documento divulgado pelo ACES-LN é um trabalho realizado pelos médicos de família da USF Marginal, em Cascais, e por estes distribuído junto da população por eles servida. São médicos com actividade clínica diária, estão envolvidos em actividades formativas e de investigação e têm carreiras profissionais e académicas prestigiadas. As recomendações por eles redigidas e disseminadas no ACES-LN têm como base a melhor e mais robusta evidência científica disponível hoje. O mesmo não pode ser dito das recomendações dos três especialistas citados na notícia, aparentemente assentes na sua experiência pessoal e sem indícios de qualquer fundamentação.

Este fenómeno não é novo nem exclusivo de Portugal. Os especialistas de topo lidam com situações clínicas mais graves e complexas, o que os leva a endurecer a sua atitude na luta contra as doenças das suas áreas de especialização. As organizações que os representam tendem a propor mais exames, a mais pessoas e com menores intervalos entre as observações. Essa atitude, ainda que compreensível, não tem muitas vezes suporte científico consistente; pelo contrário, sabe-se que o excesso de exames resulta em aumentos por vezes dramáticos do número de pessoas erradamente diagnosticadas como tendo um problema de saúde; esses diagnósticos em excesso, conhecidos como falsos positivos, resultam em mais exames, quase sempre mais agressivos, em ansiedade escusada para as pessoas afectadas e, em algumas situações, em tratamentos de resultado no mínimo duvidoso. Fazer muitos exames e muitas vezes pode fazer mais mal que bem à saúde.

Ao contrário do que é sugerido pelos especialistas referidos na peça do Público, não são motivos económicos mas clínicos e técnicos que estão na base das recomendações efectuadas. Trata-se não de poupar dinheiro, mas de oferecer às pessoas o melhor que a ciência oferece, sem nunca se perder de vista que essa ciência tem limites. As referidas recomendações, repetimos, estão ancoradas no melhor conhecimento científico presente. Devem ser aplaudidas e disseminadas.

Armando Brito de Sá

Médico de família e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
Jaime Correia de Sousa
Médico de família e professor da Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho
José Augusto Simões
Médico de família e professor da Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro

Luís Filipe Gomes
Médico de família e professor do Departamento de Ciências Biomédicas e Medicina da Universidade do Algarve

Luís Rebelo

Médico de família e professor da Faculdade de Medicina de Universidade de Lisboa
Isabel Santos
Médica de família e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa 

Vasco A. J. Maria
Médico de família e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa»

terça-feira, 24 de maio de 2011

Medicina centrada em indicadores


Vem este meu texto a propósito de um excelente artigo de opinião publicado por Miguel Melo e Jaime Correia de Sousa na última edição da Revista Portuguesa de Clínica Geral:


O artigo levanta de uma forma bem estruturada alguns dos aspectos que urge resolver rapidamente na forma como as equipas de Cuidados de Saúde Primários estão a trabalhar em Portugal. Sim, porque esta discussão diz respeito a todas as equipas, quer aquelas que trabalham em Unidades de Saúde Familiares, quer as que estão em Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados. Indo ainda mais longe, como referem os autores, esta problemática acaba por se reflectir na própria população e na qualidade de cuidados que os nossos pacientes recebem.
O actual modelo de pagamento por desempenho, o actual conjunto de Indicadores de Desempenho e a metodologia seguida pelas entidades de contratualização promove  a "focalização e o afunilamento da prática clínica". Ou seja, promove uma prática clínica orientada para as metas que têm  que ser atingidas para cada indicador em detrimento de uma prática clínica centrada no paciente. Por outras palavras, neste momento, é significativo o risco de um paciente ver o seu médico de família muito preocupado com determinados procedimentos, por exemplo certos rastreios oncológicos em certos grupos etários, e menos preocupado em atender às queixas que realmente levaram o paciente à consulta.
Este tipo de problema não é um exclusivo nacional. Na verdade, ele é típico dos Sistemas de Saúde em que foram implementados sistemas de pagamento por desempenho. Há algumas semanas ouvi uma colega inglesa relatar a seguinte situação:
Uma paciente de 68 anos com dificuldades de mobilização por problemas osteoarticlulares recebeu em casa um convite para se deslocar ao Centro de Saúde para um exame periódico de saúde incluindo alguns rastreios. A filha foi ao Centro de Saúde e efectuou a seguinte pergunta ao médico: Esta consulta que aqui é proposta à minha mãe é no interesse de quem? Da minha mãe ou vosso?